sexta-feira, 18 de junho de 2010

das lágrimas da vovó.


Ontem quando eu estava no trem, vindo pra casa, entrou uma senhora no mesmo vagão que eu. Eu tenho um hábito estranho de ficar estudando as pessoas nos meios de transporte. Ela sentou em um banco de frente para mim, e eu notei que os olhos dela estavam vermelhos. Ela tinha um rostinho tão carente, aqueles rostinhos que as vovós fazem pra gente quando algo está errado. Aquele rostinho pedia colo, pedia um carinho. E então eu me distraí, e quando olhei novamente para ela, ela estava chorando. As lágrimas desciam pelo rosto dela de uma maneira que, percebi eu, ela não estava podendo controlar. De uma maneira que eu não sei explicar, os meus olhos também se encheram de lágrimas, e eu tive um ímpeto de ir dar um beijo nela e dizer que ia ficar tudo bem. Faltava uma estação para eu descer, e a vontade de falar com ela era muito forte, eu já estava quase começando a chorar, fiquei sensibilizada mesmo com aquela estranha com carinha de vovó carente chorando na minha frente. Mas eu não abracei ela. Eu saí do trem e as lágrimas escorriam pela minha face, porque eu fui covarde o suficiente para não ir falar com ela. Talvez ela só estivesse mesmo precisando que alguém se importasse. Talvez tivesse perdido alguém querido e estava desolada. Cansada. Me senti culpada. Culpada por não ter tentado diminuir a dor e as lágrimas dela. Culpada por ter descido do trem sem nem fazer com que ela me olhasse e percebesse que eu me importava. Eu não falei com ela por medo. Não dela, claro, mas das outras pessoas que estavam no vagão. Medo do que iam pensar de mim. Do que iam falar de mim quando eu, de repente, beijasse uma estranha e conversasse com ela. Foi bem triste constatar isso. Mas foi importante. Depois de um tempo, a gente descobre que é preciso que as situações aconteçam, para que a gente se dê conta de que está errado e precisa aprender a fazer certo. E eu aprendi. Ontem, eu percebi que eu vou me ferrar muito se continuar me preocupando com a opinião dos outros. Ainda sinto remorso por não ter dado um abraço na vovó. Por não ter dito a ela, que tudo sempre fica bem. Por não ter oferecido o meu ombro, mesmo que os outros achassem ridículo, pelo fato de eu nunca a ter visto na vida. Na verdade, ás vezes o carinho de um estranho vale mais do que alguém que conhecemos. No mês de dezembro eu chorava desolada no trem e ninguém veio me abraçar. Nem dizer que ia ficar tudo bem. Era véspera de Natal e tinham aprontado comigo. Mas ninguém ligou. E por isso, eu fiquei triste pela vovó. Porque me vi no lugar dela. Porque senti a dor dela. Porque vi nos olhos dela o quanto estava doendo. Fiquei pensando nela o resto do dia, e até agora, torço para que ela esteja melhor. E se algum dia, por ventura, eu a ver novamente, vou lhe dar o abraço e vou dizer: tem alguém aqui que se importa.

Beleza Oculta

"Não esqueça de perceber a beleza oculta."  Eu assisti hoje um filme chamado "Beleza Oculta". Foi uma sugestão de alg...