segunda-feira, 25 de maio de 2020

Agora eu sou mãe de um anjo



No dia 07 de maio de 2020, a quinta - feira que precedia o dia das mães, eu descobri que estava grávida. Vou mudar um pouco o verbo: descobri que estive grávida. Descobri que a ressonância magnética que eu fiz em abril simplesmente não viu o embrião, a vesícula vitelina e o saco gestacional. Foi num hospital, com uma ultrassom feita por uma médica doce e cheia de empatia, que eu recebi a notícia de que engravidei e o embrião parou de se desenvolver na 5ª semana de gestação. Um grãozinho de arroz. Sem batimentos, sem vida. Fui acolhida, compreendida naquela sala de exames. E fui acometida por um sentimento de amor que só não era maior que o sentimento de perda que se seguiu. Você pode ter lido até aqui e estar pensando o seguinte: "Como é que você sentiu dor se nem sabia que estava grávida, descobriu quando já não mais estava?". Eu vou te explicar: eu queria muito ser mãe. Os eventos que aconteceram antes de eu saber da perda foram desconexos e confusos, e eu sentia no íntimo que estava grávida. Tive os sintomas, mas como minha menstruação desregulou com a parada do anticoncepcional e eu fiz testes em março que deram negativos, eu tentei tirar da mente. A verdade é que engravidei sem menstruar. Os sintomas foram claros, mas como eu disse no início, eu fiz uma ressonância magnética em abril que não me disse que eu estava grávida, pelo contrário, me disse que eu tinha um nódulo. Pensei que todos aqueles sintomas eram, por alguma razão, do tal do nódulo. Eu senti as contrações e tive as perdas de sangue quando o bebê parou de desenvolver. Dores horríveis, não desejo a ninguém sentir aquilo. Ignorei minha intuição totalmente. Tive sonhos, sinais, mas como queria muito uma gravidez, pensei que realmente estava doida.
Foi graças a um médico maravilhoso que finalmente chegaram a um diagnóstico. Foi erro da empresa de ressonância? Foi erro do médico anterior? Nunca vou saber. Nem quero. Mas sei que os dias que se sucederam a essa notícia foram os piores que já tive. Eu tive o que chamam de aborto retido, quando o embrião pára seu desenvolvimento mas a expulsão não acontece espontaneamente. 
Passei o dia das mães com meu bebê sem vida dentro de mim. Com os hormônios desregulados, meus seios explodindo e doendo, a barriga inchada, e sem gravidez. Foi o pior dia das mães da minha vida. Ganhei presentes da minha mãe e do meu esposo, pois não importa o que os outros pensem, eu sou mãe. Mãe de um anjo, de um espírito iluminado que me protege agora. Um pedacinho meu. No domingo seguinte ao dia das mães eu tive que ir á emergência obstétrica do hospital, pois como o meu médico não sabia em que momento eu havia engravidado por ter uma menstruação desregulada, seria arriscado para mim esperar em casa a expulsão. Passamos, eu e meu marido, o dia todo no hospital. Fui tratada com respeito e dignidade. Mesmo em um quarto isolado lá dentro da maternidade, eu podia ouvir o primeiro chorinho dos bebês que nasciam, as vozes dos pais ansiosos para entrar na sala de parto. Doía. Ah, meu Deus, como doía. No final do dia, após tentarem dilatar meu colo do útero para conseguir realizar o procedimento, fui levada á sala de cirurgia. Eu não fiz a curetagem, eu fiz o que chamam AMIU (Aspiração manual intrauterina), que é menos agressivo que a curetagem para o útero. O anestesista foi de um respeito e acolhimento imenso comigo, assim como toda a equipe, tive uma médica sem igual me assistindo durante todo aquele dia. Não vi nada do procedimento, dormi um sono que achei que merecia com a anestesia. Lembro de olhar para um quadro a minha frente logo que acordei da anestesia, onde dizia: nome da mãe/nome da criança/ procedimento. E lembro de pensar: Eu vou voltar aqui, nesta sala. E nesse quadro, vai estar escrito o meu nome e o nome do meu filho (a). Esse pensamento me causou um arrepio e me senti em paz. Me deixaram na recuperação junto com os outros procedimentos cirúrgicos, em um andar diferente, para que eu não tivesse que ver mães e seus bebês. Sou grata por cada segundo do atendimento que tive naquele hospital. Depois de ser liberada, senti um vazio. Estranho, inexplicável. Vazio. 
Durante todo o processo, eu entendi e aceitei o que aconteceu, acho que estou sofrendo as fases do luto ao contrário, pois agora estou tomada por uma tristeza absurda. Estou tentando acolher meus sentimentos, sejam eles bons ou ruins. Acho que o luto precisa ser vivido. Eu desejei esse bebê. Me dói quando alguém me diz: "Pelo menos foi no início né?" Como se isso me fizesse menos mãe. E não, não quero pensar nos clichês de "logo vem outro", "logo tu supera", "isso acontece. Sei que as pessoas não falam isso por maldade, querem ajudar, mas pioram. Porque dói. Minha dica se você conhece alguém que teve uma perda gestacional é que não use essas frases. Ofereça um abraço, isso já está ótimo. Antes de dizer qualquer coisa, calce os sapatos da pessoa e trilhe o caminho que ela fez, só então diga algo. É bem provável que se você fizer isso não consiga dizer nada.
Ainda me sinto perdida, triste, como se estivesse em outro planeta. Mas posso dizer que sinto que nada mais nessa vida me abala. Perder um filho é como saber que se você sobreviver a isso, você sobrevive a qualquer coisa na vida. Como se isso fosse te dando um superpoder ao longo do tempo.
Não sei quanto tempo meu luto vai durar. Sou reikiana e nem o Reiki me tirou essa tristeza, então acredito que realmente é para sentir essa dor e acolher a mim nesse momento. 

A dor precisa ser sentida. Minha amiga, se você está lendo esse post e passando por isso, viva essa dor. Ela é sua e precisa ser vivida para poder ser superada. Você nunca vai esquecer seu bebê. Nós apenas vamos chegar em um momento onde a dor vai dar lugar apenas ao amor a nosso pequeno anjo. 
Outra dica que dou: desligue-se das redes sociais por um tempo. Postagens anunciando gravidez, de partos, de mães, bebês, vão te fazer entrar em uma vibração de revolta e uma dor ainda maior que você não precisa agora. Se retire para o bem da sua saúde mental. Quando se sentir melhor, volte aos poucos, filtrando o que presta atenção. Está me ajudando. 
Desejo que todas nós, mães de anjo, possamos voltar a sorrir de verdade algum dia e aguardar uma nova gestação. Acredito que tudo na vida acontece por um motivo, mas nesse momento, só quero pensar em enfrentar isso. Não quero entender por quês. Não tentem também. 

Um abraço fraterno e um beijo em cada mãe de anjo que ler aqui. E se você conhece alguma, por favor, tenha empatia. Nós precisamos muito. 

Namastê. 



Videos que podem te ajudar a entender seus sentimentos:



Beleza Oculta

"Não esqueça de perceber a beleza oculta."  Eu assisti hoje um filme chamado "Beleza Oculta". Foi uma sugestão de alg...